Tem dias que me sinto muito multidão,
não consigo caber em mim,
fico sem contorno e extravasso meus limites...
Ai, dependendo da loucura que me acometer,
o surto é palavra...
Durante meses tudo que ela mais quis foi que ele olhasse pra ela.
E ele olhou.
E ela? Desejou que isso nunca tivesse acontecido!
Ah, as vezes acho que vivo dessa falta que sobra,
Só vivo porque me falta...
Quando tenho, me paraliso, não sei lidar com o que dar certo.
Me fizeram tão falha, tão errante e errada.
E agora que me dão o que preciso? O que faço quando tenho o quero?
Começo a me repetir
Por tanto tempo te quis e agora que tenho não sei mas pra que queria.
Me falta cor, me falta viço e alegria.
Me sobra enxaqueca e náuseas...
E nada me completa. Continuo essa vida nômade. Sou nômade em mim.
Eu, sem casa e escrava desse desejo mutante.
Sou tantas que nem sei os nomes...
Eu sou uma multidão.
E são tantas as vozes que falam em mim.
"Se eu me confirmar e me considerar verdadeira estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser- e se eu for adiante nas minhas visões fragmentarias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessaria, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estavel. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inutil da terceira perna me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar"